Estava anoitecendo e eu preocupado, pois ainda estávamos longe do nosso destino. Posso dizer que eu estava com pessoas desconhecidas, apesar de todos terem o espirito aventureiro, tinham uma coisa em baixa que era a "ajuda ao próximo" (no good!)
Saímos de lugares diferentes do mundo, a maioria eram Brazucas, mas tinha um Alemão e um Frances também. Estamos em 9 mochileiros e um guia da região para fazer uma trilha na Bahia. O trajeto total era de aproximadamente 80km e no ultimo trecho de aproximadamente 12 km a mochileira e hoje minha amiga Silvana não amarrou suas botas como deveria e seu pé ficou "solto" dentro do calçado, no caminho enfrentávamos tudo, areia, mato, aguá e as traiçoeiras rochas. E foi em uma dessas que ela torceu gravemente seu pé.
E agora? Como faremos? Era o meu pensamento! O francês que arranhava o português falava "negon (apelido do guia Negão) temos que prosseguir caminhada" pouco se fu#*@& para o acidente. Colocamos ela nos ombro e caminhamos por um tempo, por mim estava seguindo a trilha, mas o guia tinha outros planos, já que tínhamos muitos km pela frente e a noite iria chegar em breve.
Ele disse:
- Aqui atras dessas arvores mora um sujeito já conhecido por nós guias, ele é um senhor que mora sozinho no meio do mato e vive do que caça e pesca. Sempre que passamos por essas bandas, passamos lá. (Eu pensava, como assim o cara mora aqui?)
Ele continuou.... Teremos que apertar o passo para terminar antes de anoitecer, mas a Silvana não tem condições e terá que ficar aqui, passar a noite.... e volto quando o sol estiver nascendo com um cavalo para buscar nossa princesa... ele riu e tirou risadas nossas. Quem irá ficar com ela aqui? Bem, quando me dei conta da situação todos tinham dado um passo atras, rsrs e já ajeitavam suas mochilas para seguir a diante na trilha. Confesso que no começo pensei "me ferrei" e "fdps" mas já estava lá e o instinto protetor é forte.
Chegamos na casinha simples de tudo, "limpa", e aparentemente segura de bichos que poderiam aparecer ali na noite. Ele pareceu simpático, o sr. de uns 70 anos, rosto sofrido mas de poucas palavras.. A Sil tomou um remédio que tinha na mochila e deitou na rede do ermitão.
O grupo já tinha ido, o guia se despediu e se mandou para alcançá-los. Claro que pedi a um dos colegas que avisasse também outras pessoas sobre o ocorrido. Já pensou se o safado não volta? rs Bem....Sentei na frente da fogueira, mochila entre as pernas, a noite caiu e o frio chegou. Minha faca do rambo.. ficava bem fácil... A Sil dormiu de Dor e de Cansaço.
Sim, estava com medo...mas já não tinha o que fazer! Em muitos momentos o barulho do fogo queimando a lenha e os bichos na mata eram os únicos sons daquele lugar. Ele não falava e nem eu... era um "Silencio ensurdecedor" rs
Tem fome? Ele perguntou afirmando.. sei lá... e eu logo respondi! Sim tenho! Ele pegou uma faca e andou.. acompanhei ele só com os olhos, ele parou em frente ao um cacto.. cortou uns negócios, tipo uma fruta. Pensei se não era melhor ter dito .."nao, obrigado" rsrs mas i lanche da trilha não seria suficiente pra a noite.
Parecia uma salada de chuchu, sem tempero algum, sem espinhos também.. ele tinha umas carnes salgadas penduradas na parede.. mas achei que ia dar muito trabalho! rs Sem muitas blusas, cobri a Sil com minha capa de chuva.. e sentei novamente na fogueira e ali ficamos.. muitos minutos depois ele me pergunta..."quem esta no poder?" Se referindo ao nosso presidente.., aí eu tive certeza que ele tava off-line a anos!
Trocávamos umas palavras e o silencio voltava.. era estranho estar ali, mas muito curioso, parecia que já estava a dias sentado, pois a hora não passava. Olhava para o céu quando ele ameaçou a falar e eu fingi nem dar ouvidos.. ai ele continuou..
Uma voz triste e rouca, com sotaque ele contou "Faz dez (anos) que larguei tudo lá..não tinha mais o que fazer eu era o próximo. (cabeça começou a processar milhões de possíveis situações..) ninha, tinha ou zinha (como ele a chamava) estava gravida de sua primeira filha.. que a anos tentavam.. no parto da pequena sua mulher não resistiu.. Nessa hora beteu um vento e entrou um enorme cisco no meu olho! rsrs
Ele contava de cabeça baixa e mexia os pés na areia..eu só observava e tentava tirar o cisco dos olhos..(zoeira..era uma lagrima atras da outra que eu limpava sem ele ver) . Quando ele respirou.. continuou.. aiii 1 a no e meio depois a pequena tbm não aguentou e morreu...é pra deixar doido também né? Aí bateu o "loko" nele e ele passou a viver na rua até ir para esse lugar.. foda!
A Sil acordou e perguntou se tava tudo bem.. só balancei a cabeça que sim e esperei amanhecer sentado com ela na rede. Bem cedo o Negão chegou com o cavalo, ajeitamos as coisas.. eu não sabia se agradecia, se dizia "sinto muito", ou "vamos com a gente"..sei lá! Foi uma porrada tão forte que.. somente agradeci e deixei de presente a minha faca com ele que abriu um sorriso em agradecimento.
Deu vontade de amarrar o velho, jogar em cima do cavalo e deixar a Sil ir andando de volta.. mas ele deixava claro, que ali era o seu lugar. Feliz ou não, ele fez a escolha dele e dali ele não saia mais. Terminei o restante do trajeto em falar um único A... só pensando na noite que ali havia passado.
Hoje a Sil vive na Itália, continua aventureira, já viajou 20 países e aprendeu a amarrar suas botas e eu aqui contando pra vocês.
Sem dúvidas, uma das mais marcantes de todas as viagens!
Simples Assim...
Parecia uma salada de chuchu, sem tempero algum, sem espinhos também.. ele tinha umas carnes salgadas penduradas na parede.. mas achei que ia dar muito trabalho! rs Sem muitas blusas, cobri a Sil com minha capa de chuva.. e sentei novamente na fogueira e ali ficamos.. muitos minutos depois ele me pergunta..."quem esta no poder?" Se referindo ao nosso presidente.., aí eu tive certeza que ele tava off-line a anos!
Trocávamos umas palavras e o silencio voltava.. era estranho estar ali, mas muito curioso, parecia que já estava a dias sentado, pois a hora não passava. Olhava para o céu quando ele ameaçou a falar e eu fingi nem dar ouvidos.. ai ele continuou..
Uma voz triste e rouca, com sotaque ele contou "Faz dez (anos) que larguei tudo lá..não tinha mais o que fazer eu era o próximo. (cabeça começou a processar milhões de possíveis situações..) ninha, tinha ou zinha (como ele a chamava) estava gravida de sua primeira filha.. que a anos tentavam.. no parto da pequena sua mulher não resistiu.. Nessa hora beteu um vento e entrou um enorme cisco no meu olho! rsrs
Ele contava de cabeça baixa e mexia os pés na areia..eu só observava e tentava tirar o cisco dos olhos..(zoeira..era uma lagrima atras da outra que eu limpava sem ele ver) . Quando ele respirou.. continuou.. aiii 1 a no e meio depois a pequena tbm não aguentou e morreu...é pra deixar doido também né? Aí bateu o "loko" nele e ele passou a viver na rua até ir para esse lugar.. foda!
A Sil acordou e perguntou se tava tudo bem.. só balancei a cabeça que sim e esperei amanhecer sentado com ela na rede. Bem cedo o Negão chegou com o cavalo, ajeitamos as coisas.. eu não sabia se agradecia, se dizia "sinto muito", ou "vamos com a gente"..sei lá! Foi uma porrada tão forte que.. somente agradeci e deixei de presente a minha faca com ele que abriu um sorriso em agradecimento.
Deu vontade de amarrar o velho, jogar em cima do cavalo e deixar a Sil ir andando de volta.. mas ele deixava claro, que ali era o seu lugar. Feliz ou não, ele fez a escolha dele e dali ele não saia mais. Terminei o restante do trajeto em falar um único A... só pensando na noite que ali havia passado.
Hoje a Sil vive na Itália, continua aventureira, já viajou 20 países e aprendeu a amarrar suas botas e eu aqui contando pra vocês.
Sem dúvidas, uma das mais marcantes de todas as viagens!
Simples Assim...